quarta-feira, 23 de julho de 2014

Noticias...


Ok... Fiquei bastante tempo sem dar notícia por aqui. Vou tentar resumir tudo que aconteceu nessas ultimas semanas
- Ganhamos o torneio de sinuca! Até agora não consigo acreditar, mas conseguimos. Como havia comentado no tópico anterior, ganhamos o primeiro jogo e nos credenciamos a semifinal. Na semifinal e final a regra era que passava o melhor de três partidas. Ganhamos as duas primeiras partidas da semifinal e despachamos os primeiros concorrentes. Na final ganhos o primeiro jogo, perdemos o segundo e voltamos a ganhar no último jogo.
- Nem vou comentar sobre a sacanagem que foi o jogo da nossa estimada seleção... O pessoal aqui foi bem gente boa e me apoiou bastante no dia seguinte a tragédia que foi aquele jogo.
- Fiquei tanto tempo sem escrever que a tempestade passou, voltamos a perfurar e agora já terminamos a perfuração. O objetivo principal da expedição foi atingido, ou seja, conseguimos recuperar um bom material do embasamento. Porém a expedição não foi muito amigável com os paleontólogos, visto que não conseguimos recuperar muitos microfósseis nas rochas que chegaram até nós. De qualquer forma estarei voltando para o Brasil com cerca de 60 amostras do intervalo Eoceno superior – Oligoceno inferior (~30-37 milhões de anos atrás), para realizar um estudo sobre os nanofósseis calcários durante esse intervalo de tempo.
Aspecto das rochas do embasamento. A foto de baixo mostra o contato
entre as rochas sedimentares (a direita) e as rochas vulcanicas do embasamento
(a esquerda). Fotos de Richard Arculus.
- Há mais ou menos dois dias atrás encerramos a perfuração com mais de 1600 metros de rocha perfurados. Agora estamos nos preparativos finais para retornar a Yokohama, creio que em três dias iniciaremos o caminho de volta.
- Nesse tempo todo sem perfuração a gente está fazendo outras coisas. Temos que finalizar os relatórios e os planos de pesquisa para o material amostrado. Hoje ajudei meu amigo a encontrar dentes de peixe que serão usados para contar um pouco sobre como eram as massas de água a algumas dezenas de milhões de anos atrás.
Esta chegando a hora de retornar e rever a família e os amigos. Contando os dias...

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Retorno a perfuração e campeonato de sinuca.


Retornamos ao ponto de perfuração e estamos quase prontos para receber o primeiro “core on deck” depois da tempestade. Acredito que em 6 ou 7 horas receberemos as primeiras amostras.
Hoje foi dia de passar o tempo em um campeonato de sinuca. A mesa é um pouco diferente da que a gente esta acostumado a jogar. Essa tem pequenos discos no lugar das bolas e a razão é óbvia (imagine se as bolas iam ficar paradas por um segundo com toda a movimentação do navio).
Formei dupla com meu companheiro de turno no laboratório de paleontologia (Sev) e fomos os únicos cientistas a conseguir derrotar o povo da cozinha. Amanhã teremos a semifinal onde novamente teremos que nos “agigantar” pra ganhar, isso porque o pessoal da cozinha pratica todos os dias já que a mesa está na sala de descanso deles.
 
 
No mais, a semana de descanso forçado esta acabando e espero que amanhã as amostras retornem com muitas surpresas agradáveis, visto que até o presente momento as amostras não estão muito amigáveis com o povo da micropaleontologia.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Folga forçada!


Olá pessoal!
Bom... Estamos com mais uma semana de “folga” graças a um enorme tufão batizado pelos japoneses de “Neoguri” que cismou em querer atravessar nosso caminho. O tufão, que começou como uma pequena tempestade tropical, em poucas horas atingiu proporções absurdas, estima-se que os ventos possam chegar a 300km/h.
Como estávamos diretamente no meio da rota de passagem do Neoguri, tivemos que parar a perfuração, recolher todo o material e fugir para um local seguro. Iniciamos a nossa viagem ontem ao meio-dia e a previsão é que ficaremos mais uns dois dias numa área segura para depois retornar e seguir a perfuração.
Pra ter uma ideia do tamanho do “problema” a foto abaixo (tirada há alguns minutos atrás diretamente de um monitor que a gente tem aqui mostrando o regime dos ventos) mostra que o tufão possui proporções maiores que todo o Japão.
 Só por curiosidade, Neoguri é um pequeno cão selvagem japonês (como o nosso graxaim), com uma “cara” muito amigável.

terça-feira, 1 de julho de 2014

Olimpíadas do Joides Resolution.


A nossa grande caça ao tesouro terminou empatada, sendo assim decidimos a equipe vencedora disputando cinco provas no heliporto do navio:
1) Foram escolhidos cinco participantes de cada equipe e estes cinco tinham que fazer o revezamento de um trajeto levando nas mãos uma colher com um ovo. Nessa prova a nossa equipe ganhou graças a fenomenal arrancada do Frank nos metros finais. Day shift 1 x 0 Night shift.
Credito: Bill Crawfort.
2) Uma pessoa de cada equipe sorteava um papel onde continha o nome de uma das comidas do navio. Depois ele tinha que desenhar numa folha usando apenas a boca e os demais tinham que adivinhar o que era. Day shift 1 x 1 Night shift.
Credito: Bill Crawfort.
3) Cinco pessoas por grupo e desta vez a ideia era colocar uma laranja no pescoço (segurando apertada entre o queixo e o peito) e passa-la para o companheiro que deve pegar da mesma forma, sem usar os braços. Day shift 2 x 1 Night shift.
Credito: Bill Crawfort.
 4) Cinco pessoas por grupo recebem um biscoito e colocam na testa. A ideia é levar até a boca sem usar as mãos. Nesta prova tivemos um empate. Day shift 3 x 2 Night shift.
Credito: Bill Crawfort.
5) Cinco pessoas por grupo devem amarrar o tênis sem poder usar o dedo polegar (que era preso com fita adesiva). O primeiro a acabar recebia o ponto. Day shift 4 x 2 Night shift.
Credito: Richard Arculus.
Ganhamos as olimpíadas do Joides Resolution, porém o prêmio foi repartido entre todo mundo, era uma caixa cheia de biscoito no formato de navio.
Credito: Bill Crawfort.

domingo, 29 de junho de 2014

A arte de decorar copos de isopor.


Já se tornou uma prática usual entre os cientistas que participam das expedições da IODP a arte de decorar copos de isopor (aqueles que a gente usa pra café). A graça disso não esta simplesmente em rabiscar os copos e sim no que vem depois.
A Terra exerce uma constante pressão sobre nossos corpos (1 ATM), porém devido a constituição dos mesmos nada sentimos quando estamos próximos ao chamado "nível do mar". Oque acontece é que o nosso corpo esta totalmente equipado para que haja equilíbrio entre pressão que atua de fora para dentro e de dentro para fora do corpo. Ao mergulhar essa pressão tende a aumentar consideravelmente sobre nossos corpos, segundo estudos a pressão aumenta 1 ATM a cada ~10m que descemos. Neste caso, onde o corpo humano é “apertado” pelo mar, oque sofre mais são as cavidades recheadas de ar, como os pulmões e os ouvidos. Essa pressão exercida nos nossos corpos também é exercida em outros objetos, como os copos de isopor. A pressão exercida nos copos de isopor faz com que eles diminuam de tamanho e virem miniaturas.
Após decorarmos nossos copos, os mesmos são colocados em um saco e enviados para as profundezas do oceano junto com a câmera que desce de vez em quando para visualizar as condições do poço. Quando retornam para a superfície, se transformaram em belas miniaturas e excelentes recordações da expedição.

terça-feira, 24 de junho de 2014

Caça ao tesouro!

Ontem dia 24/06 realizamos uma caça ao tesouro aqui no navio. Cada turno elegeu um grupo e este grupo recebeu uma folha com perguntas a serem respondidas. Basicamente para cada pergunta a gente tinha que ir até um ponto do navio, descobrir a resposta e encontrar um carimbo para validar a resposta. Além de ser um passatempo bem legal para enturmar ainda mais o pessoal, foi interessante para conhecer um pouco mais sobre o navio. Após receber a folha com as respostas dos dois grupos, os organizadores decidirão quem venceu e este grupo receberá um prêmio surpresa...

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Pausa para o "casing".


Ontem, dia 17/06 iniciou o processo chamado de “casing” onde ficaremos basicamente 10 dias sem receber qualquer amostra. Este processo é feito para garantir que a recuperação das amostras mais profundas ocorra sem problemas de desabamento do poço.
Durante o processo normal de perfuração é injetado um fluído que percorre por dentro da coluna de perfuração, chega até a broca e sai pela parte de fora da coluna. Esse fluído serve principalmente para facilitar a perfuração e para esfriar a broca. Ao retornar pela parte de fora da coluna de perfuração esse liquido fica em contato direto com as rochas da parede do poço. Essas rochas (nas primeiras centenas de metros) tendem a não estar muito bem consolidadas e vão sendo escamadas por esse líquido, abrindo buracos na parede do poço (fato que pode ocasionar a quebra da coluna de perfuração).
Como a nossa ideia é perfurar um longo trecho (cerca de 1400 metros), é indispensável a utilização de um artefato que estabilize a coluna de perfuração. Perfuramos quase 900 metros sem problema algum com a recuperação das amostras, porém a medida que a profundidade vai aumentando, também aumenta a probabilidade de ocorrerem problemas. No processo chamado “casing”, basicamente é perfurado um novo poço (ao lado do primeiro), sem a recuperação das amostras. A medida que o poço vai sendo perfurado, ele vai sendo revestido por tubos de aço. Esse revestimento normalmente chega até 900 metros, dessa forma a continuação do poço está salva de qualquer problema no que diz respeito a estabilização da coluna de perfuração.
Após o casing, será retornada a atividade normal basicamente do ponto onde paramos, e com a certeza de que a probabilidade de ocorrer algum problema com a coluna de perfuração e/ou o poço é quase nula.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

A análise!

Quando o testemunho chega uma voz ecoa nas caixas de som espalhadas pelo navio “core is on deck”. Quando a gente ouve esse chamado, nós paleontólogos temos que colocar o capacete e o óculos de proteção e ir até a parte de fora do navio (no post anterior tem umas fotos onde o pessoal esta medindo e cortando os testemunhos). Lá a gente recebe a amostra que ficou retida no core catcher e vai direto para o laboratório para realizar os procedimentos de extração dos microfósseis presentes na amostra.
Porta localizada na entrada do laboratorio, dando acesso a parte extena onde chegam os testemunhos.
Meu companheiro de trabalho (Sev) com a amostra do core catcher.
A técnica para a recuperação de nanofósseis calcários é muito simples. Basicamente a rocha é raspada com um bisturi (ou algo semelhante) em cima de uma lamínula e depois é acrescentada uma gota de água. Com um palito de dente a mistura amostra + água é espalhada pela lamínula, que é então colocada numa chapa aquecida para que a água evapore. Quando seca a lamínula é colada na lâmina com uma cola especial e então a lâmina está pronta para análise. Este processo leva em torno de 5 minutos.

 
A análise da lâmina é feita num microscópio petrográfico, típico para análise de lâminas de rocha, usando um aumento de 1000x. Aqui todos os microscópios tem um nome, eu estou usando o “Kiwi”. Basicamente preenchemos uma planilha onde consta diversos dados sobre a amostra, como a preservação dos fósseis, o nome e a abundancia das espécies encontradas e a idade inferida.
O "famoso" Kiwi.
Planilha com os dados da amostra.
O tamanho médio de um nanofóssil fica entre 3 e 10µm, pra se ter uma ideia numa régua o primeiro risquinho que mede 1mm equivale a 1000µm. Os nanofósseis calcários são divididos basicamente em dois grandes grupos: os remanescentes de minúsculas algas que viviam (e ainda vivem) no oceano e alguns outros elementos aos quais não foi atribuída nenhuma descendência por não haver nada semelhante na atualidade.

Abaixo mostro algumas das espécies que venho encontrando nos últimos dias, no momento estamos encontrando espécies que viveram entre 26 e 24 milhões de anos atrás numa época chamada de Oligoceno.

terça-feira, 10 de junho de 2014

O navio - parte V.


É hora de falar sobre o Core deck. Aqui é que a coisa realmente acontece, é neste “andar” que o testemunho chega e que recebe os primeiros cuidados.

Num dos posts anteriores eu expliquei de forma sucinta como é feita uma perfuração, agora vem a próxima etapa. O testemunho chega até o barco, e agora?
Como falei anteriormente não é a coluna de perfuração inteira que sobe até a superfície trazendo as amostras. O que chega até a superfície é um tubo cilíndrico de aço com cerca de 9 m de comprimento onde o testemunho fica retido (dentro de outro cilindro de plástico). Na ponta deste grande cilindro de aço há outro pequeno cilindro com cerca de 30 cm onde ficam retidas as partes mais basais do testemunho, este pequeno cilindro é chamado de “core catcher”.

Nesta imagem da pra ver o core catcher na ponta do tubo cilindrico.

Quando o tubo maior chega até o deck, primeiramente o core catcher é tirado e entregue para os paleontólogos analisarem (estas são as amostras que analisamos para determinar a idade do testemunho). Depois o testemunho maior é tirado, medido e cortado em partes menores (tamanho médio de 1,5 metros), Nesta etapa são colhidas amostras para analises geoquímicas, como composição da água, etc...
Core catcher entregue ao operador.
Tubo de plastico contendo o testemunho sendo tirado do tubo de aco.
Pessoal medindo e cortando o testemunho em pedacos menores.
Material sendo tirado do core catcher.
Enquanto nós paleontólogos preparamos a amostra e analisamos nossos resultados (vou falar disso no fim do post), o resto do testemunho passa por uma série de descrições e análises.
Depois de cortado em partes menores o testemunho vai para uma sala onde são medidas as propriedades físicas das rochas, que indicarão (principalmente) dados sobre a composição, formação e condições ambientais das mesmas. Após adquirir essas informações o testemunho vai para outra sala onde é dividido no meio (uma parte vai para a análise e a outra é colocada no arquivo).
Sala onde sao medidas as propriedades fisicas das rochas.
Sala onde os testemunhos sao repartidos no meio.
A metade que vai para o arquivo é usada para medir as propriedades magnéticas das rochas. Estes dados auxiliam entre outras coisas na datação das rochas.
Equipamento para obter as propriedades magneticas das rochas.
A metade a ser analisada é então colocada numa máquina que fotografa todo o testemunho, tipo um scanner. Depois disso os testemunhos vão para uma mesa onde o pessoal faz a descrição das rochas que o compõem.
Equipamento que fotografa o testemunho.
Pessoal descrevendo as rochas.
Voltando a nossa analise... O core catcher é entregue para nós e a gente vai para o laboratório onde as amostras são preparadas para recuperação de microfósseis. Cada grupo de microfósseis possui um tipo de preparação diferente. Depois de preparadas as amostras, nós vamos para uma sala onde estão os microscópios para fazer a analise e gerar os resultados. A sala é grande e possui quatro microscópios petrográficos e três lupas, além de um MEV de mesa (equipamento que proporciona imagens dos microfósseis com os mínimos detalhes).
Amostra proveniente do core catcher.
Laboratorio de preparacao para recuperar microfosseis.

Laboratorio de micropaleontologia.
Area que estou usando para fazer as descricoes.
A cada troca de turno é realizada uma reunião com todos os cientistas onde são mostrados todos os resultados obtidos.
Reuniao de troca de turno.